terça-feira, 4 de setembro de 2012

O andarilho

Como disse, certa vez, o slogan de uma campanha de trânsito: “No trânsito todos somos pedestres” . Refere-se a uma condição que quase todos nós já nos submetemos várias vezes em nossas vidas, onde alguns mais afortunados com melhores condições podem optar em utilizar um veículo particular e não depender do “expresso canelinha”. Mas neste ponto há muitas controvérsias, afinal, ser afortunado é poder andar de carro?! Ou possuir mentalidade suficiente para optar por  uma forma de locomoção  menos (ou até nada) poluente, e principalmente mais saudável para o corpo humano e para o meio ambiente, como por exemplo bicicleta, patins, skate, caminhada, corrida....

Agora, ser um andarilho não basta apenas ser um pedestre que caminha por aí, ser andarilho é caminhar muitas vezes sem saber onde está, mas é importante lembrar que se deve saber onde se deseja ir,  porque como diria o poeta [o que seríamos de nós sem os grandes escritores, que são nada mais, nada menos que aquelas cabeças pensantes que disseram exatamente aquilo que gostaríamos de ter capacidade intelectual de ter escrito], que “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe aonde ir” (Sêneca)... ou ainda “se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve” (Shakespeare)... Pois então, a nossa questão é dizer que para ser um andarilho não basta apenas pegar uma mochila, ou uma trouxa de roupas pendurada na ponta de um cabo de madeira como nos antigos desenhos do Pica-Pau ou num filme do Mazzaropi, e caminhar por aí, mas sim é importante saber onde se quer chegar, mas este provável destino, não necessariamente é um local físico, como uma ponte, um topo de uma montanha, uma padaria que vende o melhor pão da cidade, mas sim, aquele objetivo que se busca, que se almeja alcançar, como o próprio fato de ir atrás de algo que nem se sabe bem o quê, mas o fato de ir atrás, em busca já é o seu objetivo. Sabemos que precisamos de algo a mais, não sabemos ao certo bem o quê, mas se falta algo, estamos indo, já fomos.

A história do andarilho em questão começa quando se decide sair desta inércia que nos atrai ao marasmo da mediocridade e da mesmice. Fique parado e veja o mundo girar, a caravana passar, e quando perceber que não deveria ficar ali parado, pode ser tarde demais. Mas tudo é relativo, e a inércia também está em movimento, e você tende então a continuar em movimento, no balanço do mar, ao favor do vento, e aquele vento que sopra simplesmente pelo fato de soprar e você seguindo o fluxo, pois definitivamente é muito custoso pensar e reavaliar sua trajetória, e então, segue....

Mas chega um dia, que você percebe que a fada do dente não existe, e que aquele passarinho verde, tão esperado não veio até seu ouvido e nunca disse nada que de fato poderia ser útil para você, então vem à cabeça uma frase de uma música que se tornou hino numa certa época, que diz “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”... aí a atitude fala mais alto, e a ação vem... e cada pessoa, cada personagem, cada andarilho, pedestre, mochileiro, nômade, cigano, seja qualquer um, age, e simplesmente sai da zona de conforto e vai atrás de algo, que cada protagonista da sua história sabe o quê, ou pelo menos espera saber...
 
E aqui começa a minha história, minha trajetória, a minha vida. Como qualquer ser humano, a vida que começa, o ser que nasce não surgiu espontaneamente tampouco num piscar de olhos ou passe de mágica, tudo que acontece ali para aquela vida se desenvolva a tal ponto de vir ao mundo é o resultado de um processo muito longo e complexo.
 
Assim nasce a obra após muito pesquisar, pensar ou mesmo pelo simples fato de dispor um pouco de motivação para sentar e escrever diante do computador, ou até mesmo para os mais “grossos” como diriam lá no Rio Grande do Sul, : “Cheio de nada para fazer”, “escrever é coisa de gente desocupada” e por aí vai.  Agora porcentagem de em quanto se faz uma  obra, não vem mais ao caso, se “transpiração e inspiração” funcionam neste caso, só sei que o sujeito para suar enquanto escreve, só mesmo neste calor que faz aqui, e falando nisso, lembrei de um filme que assisti há muito tempo atrás, que a história já nem me lembro, mas que o título era algo como “Houve uma vez dois verões”. E por que vem agora um filme que nem me lembro bem a história?! É que pela primeira vez na minha vida, eu estou presenciando dois verões no mesmo ano. No Brasil é verão de dezembro a março, até aí não há novidade nenhuma, certo?! E eu acabei viajando para a Itália, e aqui estou em pleno verão novamente, e no Brasil neste mesmo período (junho a setembro) é inverno. Depois desta quase inesquecível aula de Geografia (obviamente que estou ironizando) [E nem sei por que ainda explico isso], vou dar continuidade àquilo que eu tinha me proposto anteriormente, que nesta altura, acho que nem se lembra do quê eu comecei a falar... Ah sim, sobre o andarilho...Bah, agora me veio outra frase que ouvi num filme, que este sim, nem me lembro o título, mas que era do tipo daquelas comédias americanas, onde a frase era: “Eu tenho um sonho de ter um sonho..” Mas o assunto é sobre o andarilho, que também dizia algo sobre o objetivo é ter um objetivo... algo quase análoga à frase do filme, “meu objetivo é ter um objetivo para buscar”...

Mas espera aí, tu quer dizer que atravessou o oceano, voou cerca de 10.000 km, para dizer isto?! Acredito que esteja pensando justamente nisso, certo?! Então eu só tenho a dizer, que não foram os quilômetros, muito menos o ar diferente que agora respiro, que me fizeram chegar a este assunto, mas o que me fez pensar nisso, é muito mais do que o quê me fez pensar nisso, mas sim, o que me fez escrever sobre isso. Porque pensar, sempre pensamos em mil coisas, e ninguém tem nada a ver com isso. Mas tu poder falar com alguém sobre o que tu pensa, e principalmente este alguém ouvir o que você tem a dizer e avaliar o que você disse é bom, é útil, ou simplesmente deve ser descartado, aí sim, isso é uma outra história..

Mas é assim que eu introduzo o assunto, de uma forma tão chata que é quase impossível não desistir de ler sobre tamanha “enrolação”, mas você  deve estar aí pensando : “Esta eu quero ver até onde vai”, ou então “ Como é que termina essa besteira toda?” ou quem sabe “Pô, este cara deve ter algo interessante a dizer”...  O que eu posso dizer, é que nem eu sei onde isso vai chegar, ou como isso pode terminar, mas posso dizer que o que também não sei se isso tudo será interessante ou útil para alguém, mas algo me faz escrever isso tudo, como aquele papo todo de... simplesmente caminhar, agir, ir atrás, ou simplesmente ser : --Um andarilho.

Muitas vezes a pior estrada não é aquela cheia de buracos, escura, perigosa pelas adversidades mundanas, mas sim aquela que temos medo de percorrer, e quando o medo é maior que a curiosidade, nos faz ficar estagnados, imóveis, simplesmente inertes diante do mundo que continua a girar. Ninguém pára para te perguntar por que está parado, ou simplesmente se está tudo bem contigo, pois todos estão ocupados e preocupados com suas próprias vidas, e daí aquele que está parado perde a vez, e neste caso, perder não é deixar de ganhar, é perder mesmo, no sentido de.... justamente isso, perdi o que dizer. Sem sentido. Vazio. Vácuo.

Certa vez alguém escreveu sobre a vida ser comparada a uma grande viagem de trem, e é por isso que digo, que os poetas são fascinantes, pois conseguem traduzir justamente aquilo que gostaríamos de ter dito a alguém para explicar algo de uma maneira “palpável” sobre algo que pensamos. E a grande história do andarilho, se encontra com esta viagem, com a estrada, com tudo o mais que possa ser relacionado ao assunto.

Quando resolvi pegar a estrada de vez, eu tinha cerca de 7 anos de idade, quando elaborei um certo tipo de radio-novela-noticiário, onde era uma mistura de radio-novela, onde o narrador (eu) contava histórias com auxílio de efeitos sonoros advindos de um pequeno teclado musical, e com estes sons (de buzina, sirene, sinos...) noticiava fatos cotidianos que jamais tinham acontecido na vida real, mas sim naquela estrada, digo, imaginário.  Então eu cresci, e nunca mais sequer encostei naquele “teclado”, mas descobri que também poderia pegar esta mesma estrada através das brincadeiras de bonecos, e com estes percorri muitos e muitos quilômetros, mas tantos quilômetros que quando percebi, eu tinha crescido tanto, e para os adultos, ou até mesmo jovens da minha idade, eu não estava mais na “fase” de brincar de bonecos, pois com 14 anos, já se é “quase um homem”.  Mas como um bom andarilho, não desisti e descobri que existiam diversas formas de continuar seguindo adiante, e conheci a música, e através dela pude contar muita coisa, e logo mais, descobri que a minha mente não tinha limites e já não precisava mais de gravador, bonecos ou até mesmo música, pois poderia também escrever e deixar registrado tudo aquilo que eu certa vez tinha pensado.

Quando tinha já os meus 17 anos, comecei a amadurecer a idéia de sair do Brasil, agora não me pergunte o porquê, pois para um andarilho que se preza não precisa responder tal pergunta. E nestas minhas andanças de escola, shopping, futebol na rua de cima, ensaio com banda e tudo que um jovem na minha idade poderia estar exposto à vida social, ouvi em algum lugar que além de ninguém voltar o mesmo de uma viagem, toda viagem para longe, como outro país distante, por exemplo, tudo que se vive lá seria muito intenso, como um passageiro no trem que você começa a conversar, após algumas identificações, começa uma grande amizade, e em menos de uma semana já considera esta pessoa como da família.. e eu pensava nisso, e me perguntava : “Será que é tanto assim!?”. E hoje eu posso dizer que não sei se é tanto assim, mas posso dizer que de longe, você às vezes enxerga muito melhor. Experimente se aproximar deste texto, quase tocando a imagem no seu nariz, e é justamente isso que parece quando estamos tão perto de algo, esta miopia forçada nos impossibilita de ver qualquer coisa, por mais óbvia que pareça ser. E que talvez o fato de você estar longe de casa, não ter ninguém para conversar, não conseguir se expressar direito, e encontra alguém que te entende que torce para o mesmo time, ou até mesmo vai para o mesmo lugar, já é o bastante para você agir de uma forma como se não tivesse nada a perder, e este ponto é importante – Estar aberto para novas possibilidades. Pois também é uma maneira de se afastar da alienação que estagna qualquer um, seja qualquer lugar que esteja.

Mas quando você abre o olho, e decide continuar nesta estrada, que sempre foi a mesma, mas que hoje surgiu coragem para segui-la, pode ser tarde demais, mas mesmo assim, quando isso acontecer, já valeu a pena. Então se abra para a vida, faça as malas, pegue a estrada, vá, ande, corra, grite, faça!!

Então decido escrever, e tendo começado um livro em 2003, percebi que quase 10 anos depois, de fato eu não tinha terminado aquele livro e sequer iria terminá-lo, pois parecia que nunca o que eu tinha para escrever era o bastante bom ou minimamente significativo para registrar, ou mesmo por não ser convincente para mim o motivo de dizer aquilo a alguém?! Eis aqui o meu “grito de independência”, ou o “divisor de águas”, ou seja lá como você gostaria de denominar  tal avanço. Independer-se, tornar-se independente ou dono do seu próprio futuro, dono dos seus passos, ou simplesmente livre para se expressar.
  

Este texto está disponível em áudio, para ouví-lo basta clicar no play.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, contribuindo para o crescimento deste blog. Muito obrigado!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...